Um professor de cursos profissionalizantes em Santa Maria, na região Central do Rio Grande do Sul, registrou uma ocorrência na Polícia Civil por ter sido orientado a deixar de dar aulas pilchado. Edison Luiz Soares Silveira, de 57 anos, afirma que uma coordenadora fez o pedido por ele “estar fora de padrão dos demais colegas”.
O caso aconteceu em janeiro e foi registrado em março, na 3ª Delegacia de Polícia Regional de Santa Maria.
Instrutor de ensino e aprendizagem em serviços do Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Sest e Senat), Edison pediu para ser demitido, por não concordar com a ordem. Na ocorrência policial, o acontecimento foi tratado pela polícia como “fato atípico”.
“A que pontos chegamos, precisar de autorização para usar bombacha? Nunca senti nada parecido. Foi falta de respeito, de consideração. Fui atingido moralmente. Estou desempregado agora, abri mão de salário de cerca de R$ 6 mil e plano de saúde, mas não fico em lugar que vão de me proibir de usar bombacha”, afirma o professor, que chegou precisar de atendimento psicológico.
Em nota, o Sest Senat afirma que “preza pela qualidade dos serviços ofertados nas 159 unidades operacionais que mantém em todo o país” e que “mantém diretrizes para a padronização dos atendimentos oferecidos em todo território nacional”. Uma delas, segundo a escola, “é a utilização de uniformes pelos seus colaboradores”, o que permite a “identificação dos profissionais que atuam na instituição, garantindo aos clientes um melhor atendimento”.
Nascido em Uruguaiana e criado na zona rural, o professor disse ao g1 que seguia as regras da instituição, uma vez que concordava em vestir a única peça de vestuário fornecida, a camisa com logo. E que complementava a roupa de trabalho com lenço, bombacha e bota.
Coordenador da 13ª Região Tradicionalista com sede em Santa Maria, o narrador de rodeios Júnior Pozzobon entende que houve preconceito por parte da escola.
“Encaramos isso com muita tristeza, ver o professor sofrer esse preconceito por não poder dar aulas pilchado, sendo que a pilcha gaúcha é reconhecida como traje oficial, por lei. Gostaríamos de festejar o oposto, ver cada vez mais professores dando aulas pilchados, com a nossa cultura cada vez mais presente dentro das escolas. Só quem perde com isso é a cultura e a tradição”, lamenta o representante do MTG.
Por outro lado, o Sest e Senat alega que “respeita e valoriza a pluralidade cultural de todas as regiões brasileiras, promovendo projetos e ações que incentivam as tradições e a diversidade, cumprindo assim o seu papel de instituição social responsável também pelo desenvolvimento nacional”.