Bancos ampliam prazo de financiamento para adoção de energia solar

Mesmo durante uma das maiores crises de saúde da história recente da humanidade, alguns setores da economia conseguiram encontrar, em meio a tantas incertezas, uma oportunidade de crescimento. Foi o caso dos sistemas de energia solar fotovoltaica. No primeiro semestre de 2020, quase 50 mil novos postos de trabalho foram abertos em toda a cadeia de produção. Ao todo, são 190 mil empregos acumulados desde 2012. O número de instalações também cresceu em torno de 45% no primeiro semestre do ano, na comparação com o mesmo período de 2019. A explicação por trás da expansão dessa tecnologia está ligada ao preço. Desde 2010, os custos caíram aproximadamente 85%. A redução está associada à ampliação, ainda que pequena, da nacionalização da produção e aos programas de isenção de impostos do governo. Agora, o alongamento dos prazos das linhas de financiamento voltadas à energia limpa e o aumento do período de carência devem impulsionar ainda mais uma indústria que está em franco progresso.

Os grandes bancos brigam por oferecer condições melhores para empresas e pessoas físicas interessadas em investir em energia limpa. O Santander anuncia o alongamento de 60 para 72 meses para o pagamento de uma linha especial de financiamento a quem comprar equipamentos fotovoltaicos. Também ampliou de 90 para 120 dias o período de carência para o vencimento da primeira parcela. As taxas seguem inalteradas, a partir 0,79% ao mês. “Identificamos que o prazo de quatro meses corresponde, em geral, ao intervalo entre a decisão de compra do sistema solar e a sua instalação, permitindo que o cliente só comece a pagar as parcelas quando já tiver reduzido seu custo com o consumo de energia elétrica”, diz Fabio Mascarin, superintendente de estratégia de negócios da Santander Financiamentos. Já o Bradesco oferece parcelamento em até 60 meses, com carência de até 90 dias para o pagamento da primeira parcela e taxas a partir de 0,99% ao mês, de acordo com o projeto. O Itaú também apresenta a possibilidade de 90 dias de carência e com parcelamento em até 57 parcelas, mas não informou as taxas ofertadas aos clientes.

Com a adoção do home office durante o isolamento social, as pessoas passaram a ficar mais tempo em suas casas, o que certamente elevou os gastos com eletricidade — que podem ser reduzidos com as instalações de energia solar. O consumo de energia elétrica de uma família média brasileira, com quatro pessoas morando em uma residência, está na faixa de 190 quilowatt-hora (kWh) por mês. A instalação de um sistema fotovoltaico orçado entre 10 mil e 15 mil reais reduziria cerca de 80% a 90% os gastos dessa família, com retorno de investimento entre quatro a sete anos e durabilidade de 25 anos do sistema, de acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar). Para habitações populares, um sistema de 5 mil reais já seria capaz de suprir 70% do consumo de energia elétrica mensal de uma família de baixa renda, o que abre espaço para a inclusão dessa tecnologia nas habitações do recém-lançado Casa Verde e Amarela. A associação ainda negocia com o governo federal os termos do negócio.

No Brasil, os investimentos privados no setor somam 33 bilhões de reais desde 2012. Em setembro, a fonte solar apresentava 6,4 gigawatts (GW) de potência operacional, mas ainda representava pouco menos de 2% da capacidade do Sistema Interligado Nacional (SIN). Um relatório da BloombergNEF concluiu que as placas solares e os aerogeradores — encarregados pela fonte eólica — foram os maiores responsáveis pela nova geração de energia do mundo. Cerca de dois terços da chamada “nova energia” produzida no planeta foram provenientes dessas duas fontes, o maior percentual da história. É importante ressaltar que, em 2010, ambas representavam apenas um quarto desse índice. O crescimento da geração de energia limpa realmente chama a atenção, mas é preciso se preocupar, sobretudo, em uma transição adequada do sistema elétrico brasileiro para as fontes renováveis, para, assim, evitar os erros cometidos por outras nações. Nos Estados Unidos, o estado da Califórnia, vale lembrar, falhou na manutenção das linhas de transmissão e ainda sofre com uma grande sobrecarga em seu sistema, agravada pela rede elétrica americana, que não permite o “intercâmbio” de energia entre os estados. Por esse lado, o fato do Brasil ter iniciado essa expansão tardiamente traz alguma tranquilidade para as autoridades, que podem aprender com os equívocos estrangeiros e realizar uma transição mais tranquila nos próximos anos.

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By Natasha Figueredo

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