Câncer de mama: os cuidados para proteger a pele dos tratamentos

Outubro Rosa: precisamos cuidar da paciente por inteiro e a pele também exige atenção. É sempre um susto receber o diagnóstico de câncer de mama, já que muitas mudanças virão pela frente. Segundo o INCA – Instituto Nacional de Câncer, mais de 66 mil mulheres são diagnosticadas anualmente no Brasil.

Felizmente, hoje há inúmeros tratamentos e, principalmente, o diagnóstico precoce. As consultas com o ginecologista, os exames de rotina como a mamografia, ultrassom e o autoexame, ajudam a tornar jornada menos penosa e criam uma possibilidade real de cura.

Sempre digo que uma rede de apoio, nesse momento difícil, faz toda a diferença. E, por isso, existe uma série de cuidados integrativos que buscam um olhar complementar para as pacientes, a fim de promover melhor qualidade de vida antes, durante e depois do tratamento.

Como dermatologista, eu gosto de olhar cada paciente por inteiro. No caso de uma mulher com câncer de mama, ainda temos que levar em conta a autoestima e o bem-estar e, no meu caso, isso se consegue a partir dos cuidados com a saúde da pele, cabelos e unhas. E no Outubro Rosa vale falar mais e mais sobre isso.

Então vamos lá. Os tratamentos oncológicos podem alterar a pele de maneira mais leve ou mais importante. As cirurgias, quimioterapia, radioterapia e determinados medicamentos podem deixar o organismo mais fragilizado, incluindo as condições da pele, cabelos e unhas. Entre as reações que a pele pode sofrer, estão vermelhidão, irritação, coceira, ressecamento ou descamação. A queda de cabelo e a fragilidade das unhas também são frequentes.

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É importante saber que há certos cuidados que podem ser tomados antes mesmo do início do tratamento. Por exemplo, a exposição ao sol. E isso vale sempre, mesmo para quem é saudável. É fundamental proteger toda a pele, se possível, vestindo roupas com tecidos que tenham proteção UV, assim como usar chapéu e óculos escuros. É imprescindível, mesmo em dias nublados, usar filtro solar de no mínimo FPS 30 e não se expor ao sol no período entre 10h e 15h. Aliás, o filtro solar talvez seja o produto número um para o cuidado da pele.

No tratamento com radioterapia, por exemplo, existe a possibilidade de queimaduras na pele em diferentes graus. Os cuidados durante esse tratamento incluem lavar o local irradiado com água e sabão neutro, enxugando com uma toalha macia e mantendo a área sempre limpa e seca. É recomendado evitar produtos à base de álcool e com perfumes, assim como roupas com tecidos sintéticos. Se for possível, dar preferência para peças de algodão mais soltas, em vez de jeans ou sutiãs muito justos ou apertados, para mais conforto. Além disso, a proteção da pele à exposição da luz solar deve se prolongar até um ano após o tratamento.

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Manter a pele hidratada é essencial para a paciente que faz radioterapia, sendo bom começar a hidratação cuidadosa cerca de quinze dias antes da primeira sessão. Durante o tratamento, a hidratação intensa ajuda a evitar descamação maior e ulceração da pele. A ingestão de água contribui bastante nesse processo.

A quimioterapia também gera vários efeitos na pele. Os mais comuns são coceiras, ressecamento, mudanças na pigmentação, surgimento de acne e mesmo rachaduras, vermelhidão e descamação nas mãos e pés. As unhas podem enfraquecer com a baixa imunidade. O cabelo pode cair. Mas tudo passa com o tempo.

Se começarem as coceiras, uma dica é tomar banhos rápidos e usar água morna. Na hora de secar a pele, não esfregue, deixe a toalha absorver a água e faça movimentos suaves, de leve. Para combater o ressecamento (e isso vale para qualquer pessoa, sempre), use hidratantes específicos para o rosto e corpo, sem perfume, hipoalergênicos e não-comedogênicos (que não formam cravos).

Contra a acne, lavar o local com sabonete específico recomendado pelo dermatologista. Para rachaduras e irritações em mãos e pés, é indicado o uso de sabonetes e hidrantes específicos, se necessário, mais vezes ao dia. Aliás, é fundamental que haja um acompanhamento do especialista e do oncologista para evitar qualquer reação indesejada e para que indiquem os produtos adequados.

Para preservar as unhas, que ficam sensibilizadas, costumo recomendar não usar produtos à base de acetonas e, se for passar esmalte, usar os hipoalergênicos. Há várias opções no mercado. Como elas ficam mais frágeis, vale tomar mais cuidado na hora de cortá-las ou tirar cutícula. Depois do tratamento elas costumam voltar ao normal e sempre há produtos para deixá-las mais fortes e saudáveis.
Outro ponto que destaco é a alteração na pigmentação da pele. A primeira recomendação é: evite a exposição solar. Se você quiser usar maquiagem, prefira as hipoalergênicas. E, quanto ao uso de clareadores e ácidos, vale esperar acabar o tratamento oncológico para iniciar as rotinas de cuidados com esses produtos.

Por fim, o maior temor por quem passa pela quimioterapia: a queda de cabelo. Esse medo é comum, compreensível, e há formas de amenizar esse efeito colateral. Sempre converso e busco acalmar as minhas pacientes. Atualmente, uma técnica importante, bem recomendada, e que pode ajudar muito, é o uso de toucas com resfriamento. Além disso, caso ocorra queda, outras técnicas podem ajudar no crescimento dos cabelos pós-tratamento quimioterápico, como sessões de laser e intradermoterapia com medicações e vitaminas.

Reforço que todo o tratamento, deve ter acompanhamento médico com profissionais das áreas de oncologia, mastologia, ginecologia e, claro, dermatologia, para que possam esclarecer as dúvidas e acompanhar a evolução dos quadros que surgirem.

É essencial ainda, durante toda essa jornada, preservar-se, amar-se e continuar se cuidando por inteiro, acreditando que tudo irá melhorar, confiando na ciência e na medicina. Precisamos nos unir no combate ao câncer de mama, não só durante o Outubro Rosa, mês escolhido de alerta, mas sempre. É necessário ter maior a atenção à nossa saúde, com exames preventivos, consultas médicas de rotina e, também, ao uso de produtos de qualidade, de preferência recomendados por especialistas. Cuide-se e fique bem, tudo irá passar!

A dermatologista Adriana VilarinhoRicardo Matsukawa/VEJA.com
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By Natasha Figueredo

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