A Covid-19 continua a ocupar espaço importante do noticiário, e os desdobramentos da questão da vacina ganharam os holofotes. O assunto saúde tem de tal modo sido dominado pelas discussões relacionadas ao novo coronavírus que poderia parecer que não há mais nenhuma questão de saúde com que se preocupar. Isso é obviamente falso: a importância e o cuidado maior com a saúde no tocante a outras doenças não podem desaparecer quando surgir a vacina.
Hoje, por exemplo, a principal causa de morte em nosso meio são as doenças neurocardiovasculares – que têm, inclusive, uma significativa associação com o diabetes. Temos falado muito sobre os grupos de risco relacionados à Covid-19, e um deles é o dos que sofrem com a obesidade. Neste grupo também há aspectos relacionados ao diabetes, e seria importante destacá-los.
Estudos têm mostrado complicações importantes decorrentes do quadro da Covid 19 nos pacientes portadores de diabetes, sem falar no aumento do número de casos em decorrência do isolamento social – resultado da falta de atividade física e de dietas impróprias que aumentam sua incidência (e agravam os casos de quem já sofre de diabetes). Estaremos diante de uma bomba relógio? De acordo com dados do Vigitel (Vigilância de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), a prevalência do diabetes ligado ao estilo de vida passou de 5,5% para 7% entre 2006 e 2019. Imagine-se o que pode ter acontecido em razão da pandemia com o aumento do sedentarismo e o menor acesso a profissionais de saúde.
Por isso, quando falamos em hábitos alimentares e insistimos em políticas que discutam melhorias na nutrição, o que queremos é evitar o sobrepeso e a obesidade, que são fatores de risco para o diabetes e para tantas outras doenças.
É preciso chamar a atenção da sociedade para o fato de que, embora a pandemia da Covid-19 esteja (justificadamente) atraindo as atenções, outras pandemias no mínimo tão críticas quanto estão em curso – como a do diabetes. O alto nível de açúcar no sangue é um dos males, mas há outros riscos maiores que podem gerar complicações que prejudicam a qualidade de vida e, ao mesmo tempo, oneram a sociedade.
No caso do diabetes tipo 2, o organismo não consegue suprir as necessidades de insulina e pode levar ao infarto do miocárdio, à insuficiência renal e até mesmo ao derrame cerebral. A mudança de estilo de vida com a adoção de hábitos mais saudáveis se faz urgente.
Em Nova York, 60% das internações decorrentes da Covid-19 são de pessoas com obesidade e 50%, com diabetes. Na Itália, dois em cada três pacientes internados nas unidades de terapia intensiva tinham a doença. Portanto, sair da crise da pandemia não significa apenas ter uma vacina, mas também ter estruturas políticas sólidas que possam, de forma estratégica, dar suporte aos portadores de doenças crônico-degenerativas como o diabetes.
Em pouco tempo então passaremos a casa dos 20 milhões de pacientes portadores de diabetes no Brasil. Necessitamos de políticas públicas que envolvam conhecimento, acesso a informações relativas a nutrição e disponibilidade de insulina e de recursos para monitorar os pacientes. Caso contrário, a pandemia de diabetes seguirá sem que ninguém perceba que o número de pacientes em diálise, cegos e amputados só faz crescer.